sábado, 30 de novembro de 2013

Esmeraldo Lopes, um livro em pessoa


Lugori e Esmeraldo no sofá de Dona Cilá. Foto: Jucélia Almeida

Foram seis horas de muita conversa. A princípio, fui convidá-lo para prefaciar meu livro sobre os “doidos de Curaçá” que ainda está em gestação, mas o bate-papo, talvez instigado pela cerveja ou pela própria loucura, nos conduziu a uma discussão bem mais ampla.

O cenário: o muro da casa de Dona Cilá, com um monte de roupas penduradas no varal e algumas plantas que “enfeitavam” de caatinga o lugar.

Ele xingava, esculhambava, excomungava, e bebia. Contava história, fazia discurso, instigava. Fiquei boa parte do tempo só escutando sua prosa. E ele preocupado sempre perguntava:

- Tá compreendendo?

Falamos dos doidos e dos loucos, discutimos conceitos à luz de Foucault e ele dizia:

- Cuidado! Você está numa "zona de perigo".

Ele sempre alertava para eu sair desses quadrados, das opiniões de filósofos, da reprodução acadêmica, daquilo que estava pronto. E convidava para descobrir o novo e não ficar/viver escravo de certas leituras de mundo.
 

- Os tempos são outros. A sociedade mudou. Hoje não existe mais espaço para os doidos. De uns tempos pra eles “fugiram” daqui.

E contava trechos dos livros Opara, Vozes do Mato, Caminhos de Curaçá, Caatinga e Caatingueiros. E revelou que certo professor chamou sua atenção sobre a expressão “andava andando” que ele colocara num de seus textos, dizendo estar errada, que era uma redundância, que existia uma regra gramatical que a condenava.

- Eu posso "andar pensando", "andar sonhando", não posso?! Então disse, foda-se a gramática. Eu trabalho com expressões. Não vou empobrecer um texto só por causa da gracinha da gramática. Reconheço a sua importância, mas ela não é absoluta.

E finaliza:

- Eu escrevo ouvindo!

A conversa foi um pouco de tudo. Foi aula, orientação, humor, revelação, pesquisa, imaginário. Esmeraldo é não herói, aliás, ele detesta esse adjetivo. Homenagens? Nem agora nem depois, afirma! Ele não se sente mais seguro em Curaçá. E conta que certo dia quase brigou por causa de Nerimar.

- Estava tomando um cerveja quando Nerimar chegou com a porra da sua guitarra invisível e alguém o insultou. Tomei as dores e disse que o “estranho” ali era ele. E disse, se está incomodado, se pique daqui. Toque nele aí que eu quero ver se você é macho mesmo.

Assim como Nerimar, tantos outros foram agredidos pela coletividade, por estranhos. Se antes os doidos andavam por aí, entravam em nossas casas e faziam parte do nosso convívio; hoje é bem diferente, talvez tenha sido por isso que eles “sumiram” daqui. Agora são “lendas”.

Esmeraldo Lopes pode até não querer rótulos, ou como ele mesmo se intitula, ser um “anarquista reacionário sem causa”. Mas eu digo, querendo ou não ele é um dos sustentáculos da nossa cultura, um guardião. Não só por registrar e publicar em suas obras parte de nossa história, recuperar nosso passado, preencher lacunas. Ele, por si só, é um livro em pessoa, com infinitas páginas, cheio de vírgulas, exclamações, interrogações, mas sem ponto final.

sábado, 28 de setembro de 2013

Eu gosto é dos loucos

Boscão no 1 º Tributo a Renato Russo em Curaçá. Foto: Luciano Lugori
Eu prefiro os loucos. Porque gente louca não tem medo do ridículo nem do rótulo. Gente louca não tá nem aí para o que não interessa. Gente louca é leve. E intensa. Com essa gente não tem frescura, não tem censura, não tem 'não-me-toques'. Os loucos te tocam fundo, lá na alma, e te fazem acreditar que o impossível nem sempre é tão impossível assim.

Os loucos arriscam. Largam tudo. Mudam de ideia. De gosto. De direção.

Gente louca sobe no palco e dá show. Manda um "foda-se" do tamanho do universo para tudo o que faz mal. Escuta o coração. Deixa pulsar. Deixa ser. E é.

Gente louca não cabe em definições ou frases prontas. Porque o louco tem um brilho nos olhos diferente de tudo o que a gente já viu brilhar por aí.

Gente louca é artista. Da vida. De si mesmo. E sabe disso. Porque a loucura também é uma forma de sabedoria. Às vezes triste, às vezes divina. Mas sempre sábia. Sempre!

Por Ana Paula Ramos

Salve, salve Boscão!

Algumas mulheres

A história de Curaçá está intimamente ligada a muitas mulheres. Seja na educação, na saúde, na política, na cultura, na religião. Elas de forma ímpar e aguerrida espalharam amor, serenidade, coragem e fé. Aqui, como já disse o título, estão apenas algumas delas.

São avós, mães, filhas, esposas, amigas, santas. A jornalista Alinne Suanne Torres homenageou umas em seu livro “Herdeiras de Feliciana” que, em prefácio assinado por Omar ‘Babá’ Torres, diz: Alinne [...] está nos instigando a também abrir o coração e a mente para que vejamos além do que nos mostram os olhos e revelemos outras tantas mulheres que, anonimamente, vivem por aí...”.

Finalizo com os versos da poetisa Patty Vicensotti. “Mulher é uma espécie de flor viva, de ternura e defesa, que aflora com uma bela poesia; é a trama, o drama, a dama que, quanto mais se tenta, menos se explica, porque são mesmo misteriosas como as coisas divinas”.

Salve, salve as mulheres curaçaenses!



sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Mosaico Curaçálico

Muitos já partiram, mas deixaram seu legado em versos, canções, histórias e lições de vida. Outros ainda perambulam por aí espargindo alegria, fazendo festa, sendo cultura. Os mais sábios destilaram-se em poesia, em arte, em fulgor. E os mais loucos se transformaram em lendas urbanas. Cada um com o seu "pensário particular" e com sua filosofia de vida, que agora se faz nossa também.

Salve, salve os Curaçálicos!
 
 
 

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Como me faz recordar

Logo cedo, por volta dos 7 anos de idade, eu comecei a ter contato com a poesia de José Amâncio Filho, o glorioso "Meu Mano". Fantástica! É incrível como ele conseguiu traduzir-se em música, especialmente na valsa. Seus versos transmitem sabedoria e genialidade de uma maneira simples e ímpar

Sem legenda: a foto, por si só, traduz-se em adjetivos

Meu Mano, no último dia nove, completaria mais uma primavera. Seria seu aniversário de 119 anos. E já que ele permanece vivo em nossos corações, eu não poderia deixar de agradecê-lo por ter existido em nossas vidas. Já são 38 anos de ausência, mas, como diz trecho de sua biografia, "talvez ainda ecoem pelo firmamento os sons do seu clarinete".
Placa fixada em sua antiga residência
  
Salve, salve Meu Mano!

sábado, 13 de julho de 2013

10 anos sem Jorge Martins

Como o tempo passa rápido e, muitas vezes, a gente nem se dá conta dessa velocidade. Lembro como se fosse hoje, quando Curaçá amanheceu com a triste notícia da morte de Jorge Martins dos Santos. Ele havia sido vítima de assassinato. Um crime cruel que pôs vários pontos de interrogações nas nossas cabeças.

Naquele domingo, centenas de pessoas corriam para o campo, onde hoje existem as Casas Populares, para verificarem se aquilo realmente era verdade. Confesso que me custou acreditar ao vê-lo estirado de bruços no chão. Lá estava o querido e amado Jorge com camisa vermelha, calças Jeans e sandália de couro, no meio do nada e sem vida. Como alguém pôde cometer tamanha crueldade?

Jorge fora vizinho por muitos anos quando morou na Rua Hermes Duarte Lima com a sua mãe, Dona Guiomar, já falecida. Também foi meu estagiário quando eu ainda estudava no Colégio José Amâncio Filho no ano de 1992. Era tio de um dos meus melhores amigos, Dorivan Martins. Ele animava os carnavais participando do Bloco das Virgens e divertia todos com o seu jeito irreverente. E ainda era vendedor de peças íntimas. 

Tenho arraigado na minha memória várias lembranças de Jorge, mas, sem dúvidas, tenho uma que é muito especial e que é comum a todos que o conheceram: a música “Um sonho de amor” da Banda Limão com Mel. Lembro-me até de uma pequena homenagem feita por Batista Lima num dos shows realizados em Curaçá após a tragédia. Jorge era fã incondicional do referido grupo. Na noite anterior à sua morte, ele passeava pelas ruas em seu carro escutando, talvez em volume máximo, exatamente essa música. Eu mesmo o presenciei no Bar 3A, de Toinho de Seu Pascoal, transbordado de felicidade. 

“Foi um dia tão tristonho, quando você “nos” deixou. Nossas lágrimas nos olhos nos diziam a todo tempo, nada se acabou”. E Jorge permanecerá vivo em nossas lembranças. “Vou lembrar, para sempre vou lembrar”. E muitos irão, porque pessoas assim não morrem. Como está escrito no seu santinho, “tiraram-lhe a vida, mas não acabaram com os seus sonhos de uma sociedade mais justa, humana e irmã”. Esse sonho é nosso também, por isso, permanecemos aqui “tentando superar a falta, a saudade e a solidão que esmaga 'nossos' corações”. Curaçá chora a tua ausência. 

Depois de amanhã, dia 16, Jorge completaria 47 anos. Salve, salve-o!!!!







terça-feira, 25 de junho de 2013

Curaçá planeja movimento em prol de melhorias

O Brasil está em ebulição e a onda de protestos que se alastrou pelos quatros cantos da país chega a Curaçá. Na noite de ontem (24), um grupo de 40 pessoas se reuniram na Praça Raul Coelho para discutir os rumos da cidade. O encontro foi idealizado por estudantes que participaram, na última quinta-feira, da primeira manifestação no Vale do São Francisco e foi difundido para outros militantes da sociedade curaçaense através da internet. Na reunião foram delineadas estratégias para mobilização de participantes, da Sede e do Interior do município, discutido os principais pontos de reivindicações e escolha de nome para o movimento.

Participantes do 1º Encontro do #CURAÇÁnaLuta! Foto: Luciano Lugori

Batizado de “Curaçá na Luta!”, o grupo manifestou-se a favor dos protestos que vem acontecendo em todo o país e na região sanfranciscana e pontou vários problemas que assolam a cidade. Dentre eles, pode-se destacar a insatisfação dos moradores com a atual situação da BA 210, trecho Curaçá-Paulo Afonso. Os manifestantes também reivindicarão melhorias na educação pública, saneamento básico e iluminação nos bairros Salvador Pereira Lima e Bambuí, incentivo à cultura, ao lazer e a arte, esclarecimentos sobre a atual situação da saúde, outros serviços de telefonia móvel, melhores condições do transporte alternativo e redução do preço das passagens, residência fixa de autoridades na cidade etc. Conforme foi deliberado, será feita uma carta aberta à comunidade apontando todas reivindicações do movimento e encaminhada aos órgãos públicos e à imprensa. 

Ainda não foi definida a data para a realização dos protestos. Para a estudante Anne Gabrielle, uma das mobilizadoras do movimento, o grupo tem que agir com cautela, já que a cidade é pequena e as pessoas costumam associar todos os atos a grupos políticos partidários. “O movimento não deixa de ser político, mas é bom deixar claro que não existe bandeira A ou B no condução dos trabalhos. Aliás, também reivindicamos a moralização da política nacional”, concluiu a militante. 

Os manifestantes declararam total apoio as reivindicações do Movimento “O Valeu Acordou”, que tem levado milhares de pessoas às ruas, mas demonstraram-se insatisfeitos e não contemplados nos protestos, já que as manifestações não incluíram todas as cidades sanfranciscanas. “Curaçá também é Brasil e, apesar de pertencer ao Vale do São Francisco, em parte, não me sentir representado pelo Movimento O Vale Acordou, pois os protestos se limitaram, principalmente, aos problemas sociais de Juazeiro e Petrolina, deixando outras cidades de fora. Isso nos motivou a criar um movimento local, que esteja de acordo com a nossa realidade”, revelou a estudante Adriana Carvalho. 

O Movimento “Curaçá na Luta!” pretende levar centenas de pessoas às ruas. Todo evento será articulado, principalmente, pela internet por meio das redes sociais. Os encontros para discussão de ideias e organização de manifestos serão realizados em espaços públicos e abertos à comunidade em geral.

Movimento #CURAÇAnaLuta!

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Viva os loucos!

No último sábado, ao chegar da faculdade, desci na Orla de Curaçá, juntamente com o pessoal da Associação de Estudantes, para participar de um evento em comemoração à Semana do Meio Ambiente. Chegando lá ‘dei de cara’ com Chupila e logo corri para abraçá-lo. E, claro, tirar uma foto. Estava empolgadíssimo com aula que eu tivera pela tarde com o professor João José. Tinha tido orientações para meu Projeto de TCC que falará da loucura e dos “doidos” de Curaçá. Estou fascinado pelo tema, pelas leituras, pela própria loucura, pelos loucos. 

Chupila anda rua acima e rua abaixo, dando repetitivos e incansáveis pinotes, com uma mão na boca, pedindo uma moeda, se fazendo de besta. Dizem até que ele é um “oculista de bêbados”. Ele é uma figura. Dessas que, de tempos em tempos, surgem em Curaçá, cada uma com a sua particularidade. Chupila briga, corre atrás do povo, faz-se louco, faz medo, arranca de nós uma boa gargalhada, é cheio de histórias.


Chupila e Lugori    Foto: Adriana Carvalho



Assim é Curaçá. Com uma história de quase 200 anos, considerando apenas o tempo em que o antigo aldeamento do Pambú se constituiu Vila, a cidade sempre apresentou “personagens” carismáticos “tachados” como loucos e outros tantos “normais”, mas que por um motivo ou outro perdeu a dita “razão” e foram lançados no berço do esquecimento e do desprezo .

E foram muitos! A convivência com esse “estado de loucura” fez com muitos deles se tornassem patrimônio cultural da cidade. Zé doido, Domingão, Zé Pretinho, João Pescocinho, Macacuí, Gilberto Doido, Jorge Doido, Boscão, Neném Pitaca, Priquitinho de Tote, Jacutinga, Maria Quitéria, Goeszinho, Valney, Damião, Lalá e Chupila são apenas alguns nomes que fizeram e fazem parte deste cenário. Cada um com o seu “problema”, clínico ou não.

Ai que saudades de Domingão. Sobre ele, o grande Walter Araújo disse "Domingos fez parte daquelas criaturas que nos permite refletir, circunstância tão incomum no mundo de hoje. Impossível esquecer ser jeito sorrateiro, seu sorriso-gargalhada, sua mão estendida. Todavia, o que traz a reflexão era seu olhar humilde, quase uma súplica. E sua condição de indefeso diante de nossas arrogâncias. Em qualquer ambiente chegava acanhado, tímido, como se pedindo permissão para entrar. Se, como dizem, os olhos são a janela da alma, vi isto muito nítido na humildade do olhar de Domingos"


Sobre João Pescocinho, o sociólogo Esmeraldo Lopes revelou “João Pescocinho vivia a pregar onde quer que houvesse gente. Em suas pregações, declarava que havia sido recomendado por Deus para ajudar na remissão dos pecados do mundo. Fui a ele fazer uma entrevista. Ele me puxou para dentro do seu casebre, procurando escondido. Cochichou nos meus ouvidos: "Meu filho, cuidado! Se eles lhe verem comigo podem até lhe matar. O mundo tá cheio de cão. Quer ser meu ministro? Só que você não pode falar para ninguém, para evitar perseguição. Todos lhe declaravam louco e ninguém lhe ouvia. Na entrevista foram delineando seus planos: matar a fome do povo, evitar a prostituição, fazer chover, dá boa remuneração para os soldados não cometerem corrupção"

Em Curaçá tem louco que se faz de louco. Josiná Possidônio da Silva, conhecido como Lalá, ele mesmo me contou (mas não mostrou) tem até atestado de loucura. No entanto o próprio revelou que foi treinado por um amigo (ele imita direitinho) para enrolar o pessoal do Previdência e conseguir a sua aposentaria. E conseguiu! Mas trabalha normalmente limpando esgotos da cidade e, apesar de apresentar um comportamento considerado normal, a sociedade ainda o considera como um doido. Isso talvez esteja associado às suas vestimentas, à falta ou pouco cuidado com a própria higiene ou ainda o fato de ser uma espécie de “jornalista” que sabe tudo dos outros. E o pior é que ele não sabe guardar segredos. Para muitos, o seu comportamento é reprovado. Ele não tem papas na língua.

Na sociedade curaçaense existem pessoas que são classificadas como “loucas” apesar de não ter a figura do médico para assim diagnosticá-las. Essas, ao contrário, são assim chamadas por apresentarem comportamentos considerados anormais e são de igual modo “excluídas”, marginalizadas e vitimadas pelo preconceito e pela arrogância. São os “loucos sociais”. Muitos não apresentam sequer um tipo de distúrbio aparente, mas são vistos como loucos e morrem como tal. Assim é a loucura. Ora clinicamente detectada. Ora socialmente decretada.



Salve, salve os "doidos" de Curaçá!!!!




"Enquanto você se esforça pra ser um sujeito normal e fazer tudo igual...Eu do meu lado aprendendo a ser louco" .
Raul Seixas










quinta-feira, 6 de junho de 2013

Parabéns Curaçá

Fico a me perguntar, o que seria da nossa história ‘sem’ João Mattos e seu magnífico trabalho “Descripção Histórica e Geographica do Município de Curaçá”? Tal obra foi inicialmente apresentada no 5º Congresso Brasileiro de Geografia nos idos de 1916 e 10 anos depois fez-se livro. O seu trabalho foi unanimemente aprovado pela comissão avaliadora e o relator do parecer disse: “Mattos discorre com habilidade e argúcia sobre Curaçá, narra lacônica e abreviadamente os acontecimentos históricos do município”. O “breve” trabalho de João Mattos serviu de base para tantos outros. E, ainda hoje, após quase cem anos ele é a principal referência de resgate e registro da memória de “Pambú - Capim Grosso - Curaçá”. Sem ele ficaria bem mais difícil desvendar certos mistérios que ainda nos rodeiam. O Livro do Centenário de Curaçá reproduz alguns trechos de sua pesquisa e o sociólogo Esmeraldo Lopes sempre o menciona em Caminhos de Curaçá. Talvez esteja contido nestas três obras, a maior parte de registros de nossa história. 


Confesso que não entendo o porquê da pouca valorização da nossa história e dos nossos filhos. Pouco se vê a divulgação destes trabalhos. Se não fosse por eles, talvez vivêssemos num vazio, num mundo sem lembranças e de memórias perdidas e apagadas pela atrocidade do tempo.

Igreja Matriz, construída em 1819, bem antes de Curaçá ser Curaçá. Foto: Google

Há exatos 60 anos, comemorávamos o 1º Centenário, isso considerando a Lei Provincial nº 488 de 06 de junho de 1953, conforme registrado nas páginas 37 e 83 do livro de João Mattos, que transferiu para o então Porto do Capim Grosso, no Sítio Bom Jesus, que mais tarde teve o nome alterado para Curaçá, a sede da Vila de Santo Antônio do Pambú. Uma nova história começou ali, permeada de tantas outras de épocas imemoriais. 

Hoje Curaçá completa 160 anos a contar desde o dia da transferência de Pambú para Capim Grosso. Foi a partir desta data que nos tornamos o que somos hoje. É o que temos de referência e mesmo a sua instalação tendo ocorrido depois, o dia 6 de junho é um marco na gloriosa história de Curaçá. E se antes, há muito tempo, houve uma “grande festa" para comemorá-la, hoje sequer hasteamos nossa bandeira, cantamos o nosso “hino”, falamos sobre nossos antepassados, contamos histórias. E pior, sequer lembramos.

Talvez no próximo mês, no mesmo dia 6, comemoremos os 181 anos de história de “Pambú - Capim Grosso - Curaçá”. Mas hoje, o dia passou despercebido. 




domingo, 26 de maio de 2013

É proibido proibir ouvir Zito Torres

Ah Durvalzito, quão grande é tua obra que tanto alegra, que arranca risos e lágrimas, mas, inevitavelmente, incomoda e envergonha ‘falsos moralistas’. “Mãe tô no cabaré de Juazeiro; mãe, e sou punheteiro”. O quem é que tem de mais na frase, além da sua confissão? Quem não sabe o que é um cabaré ou uma punheta? Pois é, no mundo de hoje está tudo tão mais explícito e escancarado, seja na música, na dança, nos filmes e novelas ou nas redes sociais. E Zito soltou o verbo, usou o talento e a criatividade para poetizar a putaria. Do seu jeito. E 'noutros tempos'.

Já são 20 anos sem o glorioso Zito Torres. Eu tenho algumas vagas memórias, umas três ou quatro talvez, inclusive do dia da sua morte. Tive a oportunidade de conhecê-lo graças a visitas constantes de meu pai à sua residência, salvo engano, aos fundos, existia um bar onde amigos se reuniam para jogar baralho, dominó, falar de futebol e tomar cervejas. Sem dúvidas, meu pai e Zito, eram amigos, talvez, desde os tempos de polícia e de delegacia, onde ambos trabalharam. O fato é que eu o incorporei às minhas lembranças e não poderia deixar de falar de suas lindas poesias, de seus versos dedicados e da sua devassidão (poética), esta última foi o motivo deste texto. Ele, realmente, era o cara. Ele, assim como todo artista, despertou o ódio e o amor, arrancou vaias e aplausos, mereceu críticas e elogios. Para ele, prefiro usar sempre os da segunda opção.

Zito Torres e a Olivetti: dedos para que te quero! 

Se ainda hoje encontramos gente que repudia seus versos, imaginem isso cantado e declamado uns 30 anos atrás. E quem não fez ou faz o que ele diz? Quem não sabe o que essas “palavrinhas" significam? Ainda ontem resolvi compartilhar o áudio de uma fita gravada pelo próprio (na 'sua' gravadora intitulada "mono-cocó") e dedicada a Davi (filho de Seu Zé de Roque) que, na época, morava em Salvador (talvez ele ainda esteja por lá). Vixe! Deu o que falar. A lado “A” da fita era só putaria. Zito cantava seu povo. São paródias, histórias, encontros e festinhas, tudo muito bem descrito (cantado e declamado). Ele sabia como ninguém adjetivar seus amigos. No lado “B” ele ameniza e diz: “eu vou retificar o que eu disse anteriormente, vou gravar agora as músicas de minha autoria, para que o amigos de Davi aí em Salvador não tenham uma impressão tão má de Zito Torres, eu gravei o lado mau, agora vou cantar o lado bom”. E cantou Homenagem a Curaçá, o qual roubarei um trecho para encerrar este texto: “saia quem quiser sair, mas Zito não sai daqui”, e nem eu! Salve, salve Zito Torres, e que ele perdoe os “falsos moralistas”.

Ah, tem mais! Zito é grande. E ninguém tirará o seu brilho. Muito menos quem sequer conhece a história de Curaçá e nem sabe quem foi Durvalzito Dias Torres e o que ele representa para nós. Nos diários de Dona Nenzinha, a própria registrou em 13 de maio de 1991: “ofereceram-se...o violão vibrante de Zito Torres - Patrimônio de Curaçá”. Aí está uma boa definição de alguém que entende, que conheceu nossa história e nosso povo como ninguém. Zito, assim como seu violão, era vibrante


Ah, esses moralistas... Não há nada que empeste mais do que um desinfetante!

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Pessoas de Curaçá em propaganda política de ACM


Certo dia, por acaso, encontrei este vídeo no Orkut de alguém, não me lembro de quem. Achei interessante, fiz o download e o guardei entre outros documentos. Agora, fuçando meus arquivos, o encontrei novamente. Trata-se de um trecho do programa de televisão de Antônio Carlos Magalhães (do antigo PFL), na época candidato ao governo da Bahia. A relíquia foi disponibilizada pelo jornalista Ricardo Noblat em seu canal no Youtube. O ano era 1990, mais precisamente, dia 1º de julho. A cidade estava em plena Festa dos Vaqueiros, quando recebeu a visita do velho 'Cabeça Branca'. Bem, isso não importa mais e nem vem ao caso. Se a razão de antes foi político-partidária, o intuito agora é o resgate histórico. 

Pois bem, vejam só as pessoas que aparecem no vídeo. Escutem com atenção a narração e observem como era a cidade no final dos anos 80. Mas lembrem-se: sem paixões 'carlistas'. Eu consegui identificar João do Fumo, salvo engano, Nelson Boga e Seu Sinhô. Os dois primeiros já faleceram, mas o último, podemos vê-lo todos os dias sentado ao lado da Delegacia, em frente ao seu antigo local de trabalho. Muitos curaçaenses devem ter em suas residências, pelo menos um móvel, confeccionado pelas mãos dele. 

É apenas um minuto e trinta e nove segundos de duração, mas para quem conhece/conheceu essa gente, passa um filme inteiro na cabeça. Assistam, viajem no tempo, matem a saudade, identifiquem mais pessoas. Vale a pena!!!!  

domingo, 28 de abril de 2013

ASSEC realiza encontro em Poço de Fora

Participantes de encontro em Poço de Fora. Foto: João Augusto

Os diretores da Associação de Estudantes de Curaçá - ASSEC, realizaram na tarde deste domingo (28), no prédio da Escola Municipal João Francisco Félix, uma assembleia com representantes da classe estudantil do Distrito de Poço de Fora. A reunião serviu para apresentar propostas para fortalecimento da Entidade com a adesão dos alunos do referido distrito, além de esclarecer alguns pontos referentes ao repasse de recursos previsto em Licença Ambiental, concedida pelo Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente - Condema, à Mineração Caraíba S/A pela extração de cobre na Fazenda Surubim.

Estiveram presentes o professor Carlos Alberto Marques, o diretor Joselito Martins, o ex-vereador Adelson Félix, além de Vilebaldo Veira Barbosa e Edirlei Eder Souza Pereira, todos moradores de Poço de Fora. A ASSEC foi representada pelo seu presidente Luciano Lugori e pelos diretores Jucielly Isabel Pereira Martins, Julliane Isabel Pereira Martins e João Augusto Gomes Rêgo. Durante a reunião foram discutidas a possibilidade de criação de subdiretorias, reuniões itinerantes, organização de encontro municipal de estudantes, além do planejamento de atividades socioambientais a serem desenvolvidas no Município.


“Não tenho dúvidas de que a ASSEC se firmará como entidade máxima de representação estudantil. O encontro em Poço de Fora foi só o primeiro passo. Estaremos realizando reuniões em todo território curaçaense, articulando com os estudantes, fortalecendo a associação e, claro, retribuindo socialmente à comunidade com as mais diversas atividades na sede e no interior”, comentou Luciano Lugori, presidente da Associação.


O estudante Edirlei Eder revelou que muitos estavam receosos em se associarem à instituição em Curaçá por medo de ficarem alheios aos acontecimentos. “Fizemos alguns encontros aqui, queríamos nos organizar melhor, por isso, pensamos em criar a nossa própria associação, mas, em nenhum momento, algum de nós pensou na possibilidade de criação de uma subdiretoria. Agora, após discussão com o grupo, estou tendo uma visão melhor as coisas”, finalizou. 


Joselito, Carlos Alberto e Adelson Félix. Foto: Luciano Lugori 
A ideia de subdireção e do rodízio de reuniões em todo interior servirá para dirimir dificuldades apresentadas, como, por exemplo, a distância para Sede, além de estreitar relações entre os diretores da Entidade. A intenção é que os estudantes do distrito procurem seus representantes e estes, por sua vez, entrem em contato os dirigentes da Associação. A instituição dará suporte e apoio às lutas pelo transporte escolar e pelo acesso a cursos técnicos e superiores, possibilitando uma educação de qualidade. Após discussões, ficou acordado que os presentes repassariam o que foi debatido para os demais alunos de Poço de Fora. A ASSEC estará presente no Distrito em outro momento, ainda sem data definida, para reafirmar a parceria e a adesão dos novos sócios.





Ascom - Associação de Estudantes de Curaçá

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Um dia paradoxal com Pinzoh e Dona Nenzinha

Hoje o dia é, especialmente, paradoxal por dois motivos.


Primeiro, comemora-se o aniversário de meu inestimável amigo Josemar Martins, o Pinzoh, o qual tenho grande admiração. Falar sobre ‘tal’ é muito suspeito. O menino travesso que virou poeta, o homem da roça que virou Doutor. Na poesia brinca com as palavras, cometeu a própria arte e com a sua ‘loucura’ nos enxertou poemas escandalosos, segundo o próprio “coisas que os reis nos negam o direito”. Os tempos passaram, mas Pinzoh continuou sendo o “o mesmo outro”, no entanto, com esforço, dedicação e força de vontade, seguiu pelas veredas da Educação e fez-se Doutor. Agora o 'pintadinho’ como era chamado pelos colegas de escola nos tempos de São Bento, assim revelou Edelita dos Santos Souza, sua professora alfabetização, preenche espaços, "brancos, pretos, pouco, aos maços, contanto que lhe caiba inteiro”. Pinzoh também fez-se/faz-se poesia.

Josemar Martins noutros tempos. Foto: Blog do Pinzoh

O segundo motivo foi a triste notícia da morte de Maria Almeida de Araújo. Hoje Curaçá perdeu Dona Nenzinha, como era conhecida por todos nós. Uma das célebres testemunhas da nossa história, uma das professoras mais renomadas de Curaçá, que teve uma vida dedicada à educação. Partiu perto de completar 97 anos, no próximo dia 11 de maio, e deixou uma lacuna nos nossos corações. Estive presente algumas vezes na sua residência e pude observar tamanha presteza e sua dedicação aos estudos, na época eu estudava com Emanuella Araújo, uma de suas netas. Dona Nenzinha será sempre um exemplo de mulher, sua história será sempre contada por nós curaçaenses, sua memória permanecerá viva e atravessará os tempos. Assim, como já está registrada no Livro Herdeiras de Feliciana - Perfis de Mulheres de Curaçá, de Alinne Suanne Torres, sua história será contada por muitos outros, será citada em pesquisas, artigos e livros. No dia de sua entrevista com Alinne, Dona Nenzinha encerrou com as seguintes palavras, as quais peço licença para repeti-las: “continuem estudando, sejam pessoas honestas e direitas. Muita coisa depende da gente mesmo e não dos outros. As pessoas que procuram proceder bem, tudo fica mais fácil”. Foi uma mulher cuja energia era contagiante e pessoas assim nunca morrem.

Pinzoh e Dona Nenzinha, ambos dedicados à educação, ambos exemplos de pessoas. Curaçá agradece suas contribuições. 

À Josemar Pinzoh, desejo muitas felicidades, que você continue ins-pirando poetas, escritores e 'loucos'. 

À Dona Nenzinha, peço que Deus a receba com todo o seu esplendor. Um grandioso abraço à família, na pessoa de Emanuella De Araújo Carvalho. Força sempre!

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Pra frente é que se anda!

Estudantes reunidos com o Prefeito Carlinhos Brandão. Foto: Guila Alencar

E que joguem as pedras, mas a verdade tem que ser dita pra todos, e assim farei. Direi pros que querem saber e para aqueles que, como diz o ditado popular, “estão cagando e andando”. No último domingo, dia 21, estive reunido com pessoal da Associação de Estudantes de Curaçá, a ASSEC, juntamente com Carlinhos Brandão para, enfim, fecharmos um acordo entre as partes. De um lado estava o grupo de estudantes, esperançosos como sempre, fazendo o seu ofício de militância e representação estudantil, levantando a bandeira de luta em prol da educação; e do outro lado estava o Prefeito, cheio de boa vontade, disposição e paciência. 


Depois de quase duas horas de reunião, discutimos diversos pontos, alguns até fora da pauta inicial, porém, foi suma importância abordá-los. O momento foi oportuno. Falamos tudo, tudo mesmo. De valores de pneus até sonhos frustrados. Eu fui surpreendido e acredito que meus colegas também. Tínhamos algumas solicitações e já sabíamos das dificuldades e empecilhos, mas “quem não chora não mama”, então, pedimos tudo! 

A ajuda no transporte escolar e outros custeios da Associação é sempre acordado em todo início de gestão. Em dezesseis anos de existência, fizemos isso com Salvador Lopes, Aristóteles Loureiro e agora Carlinhos Brandão. Cada um buscou uma alternativa para reduzir valores, já que os custos são altíssimos e, ainda mais, foge (perante leis) da obrigação do Município, já que se trata, principalmente, de Ensino Superior. Mas desta vez foi diferente, quer dizer, foi especial, pois além da ajuda que, historicamente, já é a maior em percentuais, o Prefeito se comprometeu em providenciar um terreno com medidas comercias para construção de nossa própria sede.

Já havia solicitado anteriormente, mas por problemas judiciais com as terras de Curaçá nunca saiu. Não sei se foi, exclusivamente, por esse motivo ou por outras razões. A verdade é que agora teremos um espaço para construir nossa casa, o que será outra luta. E não parou por aí não! Teve mais! A possibilidade de compra de um ônibus para a ASSEC ficou bem encaminhada. O Prefeito deu total apoio, já que alegamos a dificuldade em suportar a demanda, pois o número de estudantes que fazem uso do transporte escolar para outras cidades tem aumentado gradativamente, o que nos obrigou a colocar uma van, mas ainda assim, em muitos casos, temos que fazer revezamentos ou viajar em pé. Apresentamos uma solução e esta foi abraçada pela gestão municipal. 

Pensa que acabou, pois bem, tem mais coisas boas, entre elas, a ampliação do quadro social, que deve-se estender também para os estudantes do Interior do Município que já estes também estão recebendo ajuda da Prefeitura. A intenção é fortalecer cada vez mais a Associação e a adesão destes estudantes fará que as nossas atividades sejam desenvolvidas em toda comunidade curaçaense. Sem o apoio do governo municipal, não teríamos força para contemplar todo Município. Estudantes de Pedra Branca, Patamuté, Riacho Seco, Mundo Novo, Poço de Fora e outros povoados, agora terão a quem recorrer.

Olha só pessoal, tenho minhas posições políticas e todos sabem que fiz campanha para Salvador Lopes e não me arrependo disso, mas já passou. O povo foi soberano na sua escolha, agora é seguir em frente, com o tempo faremos uma avaliação da Gestão, ainda é cedo para atirar pedras. Eu quero é ver Curaçá no caminho do progresso e continuarei a lutar com unhas e dentes em prol da classe estudantil, em defesa do nosso patrimônio cultural, artístico e histórico, independentemente, de governos, de legendas ou cores. Eu sou mais Curaçá! Eu quero ver minha Cidade no topo, nas capas de revistas, mas manchetes dos jornais, nas TVs e nos rádios, na internet, na boca do povo, enfim, em todas as mídias.

E aqui, devo agradecer a Carlinhos Brandão pela recepção, pelo atendimento e presteza às nossas solicitações, pelo compromisso firmado e pela força de vontade. A gente não precisa saber de tudo nem carregar diplomas e anéis para entender a importância de preparar nossos jovens para o futuro, de capacitá-los. Possibilitar e facilitar acessos a cursos técnicos e superiores é empreender, é trabalhar as potencialidades, é saber que na frente o Município de Curaçá é quem mais tem a ganhar, pois somente pela educação poderemos transformar o mundo. E a nós mesmos!