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Cais de Curaçá em 1965. Fonte: Revista Delfos/Acervo Curaçaense
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cais[1] de Curaçá teve sua
construção iniciada no fim da década de 40. A estrutura foi feita para evitar
que as águas do rio atingissem às ruas da cidade, principalmente durante as cheias.
Como, praticamente, não existem registros – pelo menos não foi encontrado nem
acervo da prefeitura nem na Biblioteca Municipal – ou eles se perderam ao longo
dos anos, informações a seu respeito sobrevivem apenas nas reminiscências dos
mais velhos, talvez os únicos depositários dessa história.
Também
não existem registros fotográficos da sua edificação. A imagem mais antiga está
publicada na Separata da Revista Delfos, nº 5, de 1965, quando os professores
Fausto Luiz de Souza Cunha e Antonio Carlos Magalhães Macedo, da Universidade
do Estado da Guanabara, estiveram em Curaçá, numa viagem de reconhecimento
geológico e paleontológico da região. A
foto do cais (ver foto acima) aparece sob a seguinte legenda “Curaçá, margem
direita do São Francisco. Vê-se o paredão construído para proteger a cidade das
enchentes do rio [...]”.
Segundo
informações cedidas pelo Sr. Manoel Alves dos Santos, conhecido como “Manoel de
Salu”, a sua construção se deu em 1949, à época o prefeito era Dr. Pompílio de
Possídio Coelho, mas a obra só foi concluída na gestão seguinte, com o Dr.
Jayme da Silveira Coelho. Seu Manoel, que trabalhou como pedreiro, também
afirmou que o Deputado Manoel Novaes, juntamente com a Comissão do Vale do São
Francisco, incentivou a realização do cais.
De
acordo com as lembranças de Seu Manoel, a construção em 1949 foi interrompida
por causa de uma enchente que durou cerca de um mês e alguns dias, sendo
posteriormente reiniciada. Alguns nomes vieram à sua mente: “O encarregado da
obra era o mestre Doro e o fiscal geral seu Abílio. Os senhores Zé Porfírio, Zé
Cuíca, Zé Antonio de Judite, Francisco Bispo também fazem parte dessa história.
Eles ajudaram a construir essa barreira, evitando que a água alagasse a cidade”,
recorda seu Manoel de Salu.
É
importante frisar que essas informações não são oficiais, podendo, portanto,
divergir ou convergir com outras pesquisas. No livro Caminhos de Curaçá, do professor
e sociólogo Esmeraldo Lopes, o mesmo deixou registrado que o cais foi
construído em finais da década de 40, mas não confirma que se estendeu até
1952. Porém, registra que o Deputado Manoel Novaes foi o responsável por sua
solicitação.
No
trecho abaixo, Esmeraldo relata como era Curaçá no período de construção do
cais:
Não tinha cais. As mulheres lavando roupa no
rio. Da rua para o rio, um ladeirão sem fim, cheio de pedra. [...] No domingo, na segunda-feira, os carregadores de saco
gemendo com os sacos nas costas, rompendo a subida rio acima. Na água paquetes
e paquetes; no seco animais e gente. A beira do rio era uma rua de gente. O
governo decretou: construir cais em Curaçá. Gente chegando para trabalhar na
obra. Obrão sem fim, de grande que era. O paredão de pedra subindo, os homens
trabalhando. Um buracão danado se formando. Fazer enchimento. Carregar areia da
ilha. Uma porção de canoas nessa labuta. Não dava. Contrataram gente para
carregar terra. Jegue que não acabava mais. Não davam conta da obra no tempo
dito. Trouxeram caminhão. Mais de seis meses de trabalho nesse serviço de
transporte de terra, até tudo ficar pronto.
Atualmente
existem três pedreiros vivos que trabalharam na construção do paredão do cais.
Seu Manoel de Salú, Seu Zé Porfírio e Seu Chico Bispo. Ambos participaram desta
pesquisa e contribuíram com seus testemunhos.
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Seu Chico Bispo. Foto: Diego Gomes |
[1]
O caís é uma
estrutura, geralmente uma plataforma fixa em estacas, ou região à beira da
água. É também um nível mais alto ou calçada, comumente recoberto de pedras ao
longo de um rio ou canal.
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